Estudo dinamarquês indica que a ftalatos pode afetar o desenvolvimento dos testículos no feto causando prejuízos à saúde reprodutiva na vida adulta.
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
A exposição excessiva a ftalatos – substâncias presentes em plásticos – durante a gravidez pode afetar o desenvolvimento dos testículos no feto causando prejuízos à saúde reprodutiva dele na vida adulta, sugere um novo estudo dinamarquês recém-publicado no Science of The Total Environment.
Já se sabe que essas substâncias químicas atuam como disruptores endócrinos, interferindo na produção de hormônios. Pesquisas anteriores haviam associado altas taxas na gestação a alterações hormonais nos filhos ainda crianças, mas ainda há poucas pesquisas sobre os efeitos na idade adulta.
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Para estudar esses impactos a longo prazo, os cientistas dinamarqueses avaliaram 100 jovens com idades entre 18 e 20 anos. Todos eram filhos de mulheres que durante a gravidez haviam fornecido amostras de sangue para detectar a presença dos ftalatos. Os autores então analisaram a função testicular desses voluntários, com dados como níveis de hormônios reprodutivos, qualidade do sêmen, entre outros, e fizeram a associação com as concentrações dos químicos encontrados nas mães.
Filhos de mulheres que tiveram exposição às altas concentrações de ftalatos tinham taxas mais altas do hormônio luteinizante – um hormônio envolvido na ovulação e também na estimulação dos testículos. E apresentaram níveis mais baixos de testosterona total, sugerindo que essas substâncias podem trazer prejuízos à função testicular a longo prazo.
Os ftalatos fazem parte da nossa rotina e são adicionados em diversos produtos para tornar o plástico mais flexível. Ou seja, qualquer pessoa está sujeita a ter uma grande exposição a essas substâncias que são encontradas no dia a dia como, por exemplo, em produtos domésticos, detergentes, produtos de higiene pessoal e até em embalagens de alimentos (veja mais abaixo dicas para ter menos contato com os ftalatos).
Grávidas brasileiras
No Brasil, um estudo feito na Universidade Federal do Paraná com 50 gestantes também detectou altas concentrações de ftalatos na urina dessas mulheres. Os níveis foram maiores do que os encontrados em outros países – incluindo um subtipo que nunca tinha sido reportado. Uma explicação para esse achado é que a matéria prima para a produção deste subtipo é um álcool derivado da indústria da cana, muito utilizado no país.
Além disso, os autores também avaliaram os efeitos dessas substâncias em ratos, constatando que elas de fato inibem a produção de testosterona pelo testículo, causando malformações congênitas. “Ainda que a dose utilizada no estudo tenha sido bem superior aos níveis de exposição humana, os dados sugerem que há a possibilidade de um efeito tóxico, especialmente considerando que existe exposição concomitante a vários ftalatos e a outros contaminantes ambientais que atuam como desreguladores endócrinos”, diz Anderson Martino Andrade, professor do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná e um dos autores do trabalho.
Outras pesquisas também associaram a exposição excessiva a essas substâncias a alterações metabólicas, com maior risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2 e problemas neurológicos.
“Os resultados são potencialmente preocupantes porque nossa exposição a esses produtos é constante”, diz o pesquisador. “No adulto, os efeitos são temporários porque eles são eliminados rapidamente do organismo, mas o feto é mais vulnerável pois, além de não conseguir metabolizar essas substâncias tão eficientemente, há a possibilidade de alterações permanentes.”
Segundo os cientistas, os estudos mostram a necessidade de mais pesquisas sobre o efeito dessas substâncias no organismo e de biomonitoramento para quantificar nossa exposição a elas, além da necessidade de regulação e fiscalização.
Dicas para minimizar a exposição destes poluentes ambientais
- Prefira embalagens e recipientes de vidro ou porcelana. Opte por plásticos livres de BPA e ftalatos;
- Reduza o consumo de bebidas e alimentos guardados em latas ou plásticos – inclusive água;
- Não aqueça nem leve ao micro-ondas alimentos e bebidas em recipientes plásticos;
- Prefira as embalagens plásticas com o código de reciclagem 1, 2, 4 ou 5 (o número que está dentro do símbolo da reciclagem);
- Prefira alimentos frescos e orgânicos. Lave bem as cascas com água corrente e utilizando esponja;
- Reduza o consumo dos itens industrializados e embalados em plástico;
- Prefira cosméticos neutros e sem fragrância, e opte por produtos com poucos ingredientes na sua composição;
- Escolha esmaltes hipoalergênicos;
- Grávidas devem evitar uso excessivo de produtos de limpeza e cosméticos.
Fonte: Agência Einstein
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